terça-feira, 15 de maio de 2012

Intro

Às vezes vou lá, apenas espreitar pela janela.
Cheiro a relva, acabada de regar. Está sempre bonita, vigorosa. Vejo-a sempre como se da primeira vez se tratasse. Apetece-me correr e deitar-me nela, na relva.
O trilho que conduz à porta principal está sempre iluminado, uma fileira de candelabros invejável. São bonitos, robustos. Quando corre uma brisa, as luzes tremelicam, fica sobretudo ainda mais bonita, a luz.
E eu avanço. Avanço em pontas de pés, como que soprada pelo vento. Voo em slow-motion, desfruto do passeio e dele, do próprio movimento.
Aproximo-me da porta, não ouço barulho. Não há crianças a correr pela casa.
Estranho o silêncio que se faz sentir.
Espreito pela janela e deparo-me com uma casa vazia, sem mobílias. O sofá já não está na sala, nem a televisão, nem a estante dos livros. Onde estão eles? Os livros.
Sento-me nos degraus, encostada à porta. Decido esperar, sem pressa. Como se tivesse ido para ficar.
Decorrida uma semana, decido levantar-me dos degraus, observo o céu, está limpo. Espreito novamente pela janela, mas o vazio permanece. Não há movimento, não há vida.
Está na hora, tenho que ir. Não sei as horas, perdi o relógio faz duas semanas, na praia, num passeio de domingo.
Cada vez a minha demora neste local é maior. Cada vez é maior a dificuldade em voltar.
Hoje volto, com a quase certeza de um regresso à procura deles. Porque não me levaram? Ou simplesmente, avisaram?
Vou lá voltar, com a esperança de encontrar alguém naquela casa, que me explique o que aconteceu. Ou não, não vou voltar, pois a dificuldade em sair de lá é cada vez maior.
Resta-me tentar ficar por aqui... E vou ficando... Mais um, e outro, e mais outro dia...

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