segunda-feira, 28 de maio de 2012

Fecunda-Feira

6h23 - Toca o despertador (mais concretamente o alarme no telemóvel). Passei a noite agitada, inquieta, às voltas e mais voltas.
Sinto-a a meu lado, colada a mim. Abraço-a, uma e mais outra vez. Volto a olhar para o relógio, marcava 6h38. Damn It! Tenho que sair de casa o mais tardar às 7h. Restam-me 22 minutos para tomar banho e aprontar-me para sair de casa.
Entre um e outro beijo, mais um abraço, mais uma carícia, corro para a casa de banho, onde começo a fazer contas ao trajecto que me separa da casa dela, ao trabalho. Quase 60 quilómetros, disseram-me no outro dia. Sinceramente, acredito que rondem os 50. Quase todos os dias faço o percurso mas, nunca me preocupei muito com a distância, assim como quem diz ... o atraso é a única situação pontual na minha rotina, por isso, de nada serve contar os quilómetros.
Na banheira, começo a pensar no dia de trabalho que me espera. Na minha missão especial que implica que eu esteja presente às 7h30, sem o menor atraso.
Sinto-me entre o Éter e o GingerBread. Uma sensação quase semelhante à ressaca. Penso na conversa que tive no fim-de-semana com uma das minhas melhores amigas. Tema: Feriados e férias. Feriados... como quero tanto feriados. Penso no próximo fim-de-semana, que será entre um ponto e outro, no mapa de Portugal Continental. Fica entre o Norte e o Sul. O Este e o Oeste. E quando penso nestas certezas abstractas, penso na tamanha idiota que vive em mim, a que faz de extremos, pontos de referência intermédios.
Saio da casa de banho já preparada, como que um prato confeccionado preparado para a ultracongelação. Coloco os acessórios, calço-me, pego nos telemóveis, e dou-lhe um beijo. Vejo que me tirou um café. Fico enternecida. Faz sempre isto, independentemente das horas a que eu saia de casa. Levanta-se, serve-me um café e volta a deitar-se. Disse-lhe para não o fazer, queria que descansasse mais um pouco. Volto a observá-la, não resisto a mais um beijo. Tem o sorriso mais bonito do mundo, mesmo meio estremunhada. É esse o sorriso que trago no peito, que me aquece no momento em que atravesso o túnel da congelação, literalmente.
Vou buscar o casaco, a echarpe que trago quase sempre, a mala do portátil e a chave do carro. Estou pronta para sair, mas volto atrás. Quero um beijo. Mais um.
Estou pronta na porta do elevador, entro para o mesmo. Coloco a chave para ir para a garagem. Não dá. A chave não entra. Mando aquele elevador para as couves e chamo o outro, já ocupado. Fiquei sem saber se o problema era da chave ou do meu cérebro ainda desligado devido ao limbo horário.
Entro para o carro e sigo para a auto-estrada. são 7h04. Não apanho trânsito, o celerímetro vai marcando entre os 120 km/h e os 160 km/h. Decido seguir pela segunda-circular, deixando para trás a opção de seguir pela CRIL. Atravesso a segunda-circular e ouço numa rádio que são 7h20. Tenho dez minutos para atravessar a Ponte Vasco da Gama e chegar ao emprego. Levo a mão no rádio e o pé entre o travão e o acelerador.
Hoje não há tempo para olhar para as rádios e seleccionar a preferida. Vou carregando alternadamente nas rádios memorizadas. De todas as posições memorizadas, apenas uma é minha. Memorizei  a posição 5 na Rádio Radar. Todas as outras posições estão memorizadas na Rádio Amália. Fico contente por ter a oportunidade de memorizar uma rádio a meu gosto no rádio do carro dela.
Vou zappando na rádio parando na Madonna - Girl Gone Wild, onde o locutor usa a frase: "A Madonna também tem sempre a sardinha em brasa.", passo para "Queen - Another one bites the dust", ainda para "Umberto Tozzi - Gloria". Na rádio falam de cerejas, na cor das mesmas. A senhora diz que fazem lembrar a cor do verniz que usa. Penso em cores de vernizes e no castigo a que fui submetida ontem: uma unha de cada cor, cores essas o Verde-lima, laranja coral, rosa choque, e um roxo?castanho?Glitter. Segundo ela, uma experiência, descodificando eu: um castigo. Merecido, assumo. Mudo de estação, outro locutor com a frase: "uma rádio para quem gosta de acordar devagar", e coloca Buraka Som Sistema com o hit: "We Stay Up All Night". Penso que ela gosta desta música e deixo ficar, apesar de não ser bem o meu estilo de música. Terminado o som, ouço a passar Adele, mudo rapidamente, antes que fique deprimida, está a dar Gotye: "Somebody That I Used to Know " deixo ficar. Inevitável pensar numa ex-relação ao som desta música. Penso que realmente as coisas são assim mesmo. Mas gosto muito na mesma, sendo que realmente o que me apetecia ouvir era mesmo Metronomy com o "The Look". Penso novamente nela, tenho saudades. Já tenho saudades. Olho para o relógio: 7h34. Estou atrasada. Acelero um pouco mais, entro na rotunda final, aceno ao segurança que levanta a cancela e estaciono como posso, saindo a correr para o edificio. Vou ao gabinete, deixo o telemóvel, coloco o capacete e saio a correr para a outra área. Páro, respiro fundo, sorrio, lembro-me do sorriso dela e sigo em frente. Ninguém me pode deter. Hoje, não.



3 comentários:

T.S. disse...

Que stress-bom! ;)

Nikkita disse...

Concordo com a T.S.! :)

Xu disse...

Já consigo comentar!:D Que boa maneira de começar a Fecunda e comentar a uma sexta ainda melhor :D