segunda-feira, 15 de setembro de 2014

24 de 90 - II Season

Gosto sempre muito da 6ª-feira, final do dia.
Saí do trabalho e tive a triste tarefa de ir levar um colega ao aeroporto. Há alguma coisa mais deprimente do que isto? Tinha tanta ou mais vontade do que ele de partir, mas passadas duas semanas ele foi e eu... fiquei.
Chegamos ao aeroporto, ele sai a correr do carro pega nas malas e desaparece. Por sorte, conseguimos parar o carro na zona para "carga e descarga de passageiros". 
Ele sai do carro, eu passo para o lugar do condutor e eis que... knock, knock! sinto uma batida no vidro do carro. Já só faltava esta. Não basta a tristeza que carrego ainda vou ter que levar com o sr. agente (aqui não são agentes: são polícias, chefes ou trânsitos. Ah! Ainda há os ninjas e a Defa).
"- A senhora desculpe, o que se passa aqui?"
"- Aqui onde? Como assim?" - apeteceu-me responder o que eles tanto amam responder "não entendo".
"- A senhora deixa o carro aqui, assim."
"- Assim como? Sou das poucas que está no sítio certo para carga e descarga de passageiros. Olhe aqui, uma segunda fila com mais de 20 carros. Não estou a entender a questão."
- "Mostre os documentos."
- "Quais documentos?" - Começo a agir no modo anti-gasosa e já me mentalizei que hoje não vai haver gasosa para ninguém. Fartei.
" - Os da senhora e os da viatura."
"- Aqui tem. O passaporte vê na minha mão. Quer ver o visto?  A validade? Veja." - ele dá uma olhadela e pega na carta de condução.
"- Os documentos da viatura."
"- Aqui tem. Mais alguma coisa?"
"- Não. Falta aqui a declaração em como pode conduzir o carro."
"- Tem na mão."
"- Não é válida. Não tem o seu nome."
"- Estou incluída nos "funcionários e convidados", viu o visto?"
"- Mas a senhora não é funcionária, é trabalhadora porque tem um visto de trabalho."
"- Chefe, o meu visto não é de trabalho." - Começo a ficar impaciente.
"- Não tem como! É de um ano, é de trabalho sim!"
"- Não, é um visto ao abrigo do protocolo Angola - Portugal."
"- Preciso da declaração, esta não é válida. A senhora não é funcionária nem convidada da empresa, mas sim trabalhadora."
"- Chame o seu chefe já." - Sexta é difícil lidar com isto. Já falhava a paciência.
"- Com que fundamentos?" - Pergunta o sr. agente no cimo da sua arrogância e ignorância.
"- Você não sabe ler. É esse o fundamento."
Dá mais uma vista de olhos aos documentos e atira-os para dentro do carro.
Arrumo os documentos, fecho o vidro e sigo viagem.
Deveria ter-lhe dito que na minha empresa, as gasosas são apresentadas como custos com pessoal. Logo, não sai do meu bolso.
Sábado de manhã vou trabalhar, o que era excepcional, passou a ser rotina. 
Saio de casa, dou umas voltas até chegar ao destino, páro num cruzamento e ... pum! Batida na traseira. Olho pelo retrovisor, vejo uma senhora também num jipe. Olho para o lado e vejo duas motos. Começo a pensar se será boa ideia sair do carro ali. 
Ando um pouco mais à frente, as motos começam a andar e a senhora pára atrás do meu carro. Não havia mais ninguém. 
Saio do carro, dirijo-me à senhora:
"- Bom dia! Deu-me uma pancada no carro."
"- Ché, madrinha! Bateram no meu carro e eu fui bater no teu."
"- Ah?! Mas como assim? Não havia mais carros nenhuns na rua!"
"- Fugiu, madrinha! Não viu?"
"- Não... Deixe-me ver."-  Começo a olhar para o carro e apenas esfolou a capa do pneu (ainda bem que tenho jipe), olho para o dela, ficou com o pára-choques arranhado - "Não tenho nada, vou seguir caminho. Bom Dia!" - entrei no carro e segui para o cliente. Há momentos muito difíceis nesta terra. E não, não havia carro nenhum atrás do carro da senhora.

O bom do dia? O café que o cliente me ofereceu. Curiosamente, diz que me viu no domingo passado no restaurante em Cabo Ledo ao almoço. Confirmo. Não é fácil esquecerem-me, penso, segundo dizem.
Ficam algumas imagens do passeio, que terminou com um excelente almoço. Teria vergonha de dizer que comi... choco frito? E arroz de lagosta?... E não, não é um excelente choco frito... Meu rico choco frito. Sim, o da minha terra.




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