quinta-feira, 5 de maio de 2016

A sorte de ter azar no amor

Não tenho por hábito colocar textos de outros no meu blogue.

Mas hoje li um artigo no Público e achei interessante:

"Mas quando se muda aos quarenta, é um caminho de não retorno. É um bilhete só de ida. Não podemos voltar a casa, porque a casa onde morávamos afinal era uma coisa postiça. E até encontrar uma com as assoalhadas certas, onde caiba esta nossa nova vida, andamos por aí, ao relento. A viver por debaixo das pontes que vamos ter de passar.

Depois, um dia, os amigos, que continuaram preocupados connosco, voltam a convidar-nos para almoçar. E é estranho. Porque nós, os que mudámos aos quarenta, voltámos diferentes, tão diferentes que já nem falamos das mesmas coisas, usamos outras palavras, rimos com coisas que nunca tínhamos rido antes. Os amigos, têm de conhecer uma pessoa nova, mas com o mesmo nome e a mesma cara. Os amigos acham que parecemos uns miúdos, mas nós sentimos que, por dentro, passámos a ter alma de oitenta anos. Dizem-nos, estás diferente, pá. E nós olhamos para eles, e respondemos com alívio, não, pá, sabes? Agora, finalmente, é que estou igual."

É este o sentimento que se tem quando saímos do porto de abrigo, quando vamos para além do que chamamos "casa". Fazer as malas e partir.
Tive a sorte de viver isso antes dos 40. Tive a sorte de ter azar no amor. Até nisso eu tive sorte, sem qualquer ironia associada. 
Parti em busca de novas aventuras, profissionais e pessoais. Deixei para trás o AMOR. Quis preencher esse vazio com experiências novas, não com relações novas. Descobri todo um novo mundo. Descobri que havia VIDA. E fui. 

Fui uma e outra vez... até ter ido quatro vezes. Cada vez que ia, voltava diferente, cada vez mais diferente. Passei a considerar o mundo a minha casa. Poderia viver em qualquer país, ir por aí, descobrir, conhecer, viver! 

Sempre que voltava, os meus amigos diziam que estava diferente, cada vez que voltava estava diferente. Eu também sentia que sim, pequenos grandes detalhes como passar a sorrir mais, vibrar com pequenas coisas, encontrar conforto num qualquer olhar desconhecido.

Mudo de vida, reinvento-me uma e outra vez, mas sempre com a certeza de que EU sou a minha casa e por isso, estou bem em qualquer lado. Antes dos 40.



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