quinta-feira, 14 de julho de 2016

Agro e Doce...

A primeira vez que andei de avião foi em 1997. Destino: Zurique. Tinha um namorado neste tempo, andava de aliança no dedo, e praticava BTT mais de 20h por semana. Já tinha ganho o campeonato de Basquetebol, o campeonato de Badminton, já tinha entrado para a faculdade e até já tinha tido um emprego de Verão. E ainda só tinha 18 anos. Em mim, uma vontade louca de não estar parada. Achava que se parasse, morria. Queria tudo, queria ganhar tudo. Só competia para ganhar. Não via outra saída. E se não ganhasse, ia continuar até conseguir. E se os outros conseguiam... porque não conseguiria eu? E tinha tudo para conseguir, em mim: EU. Sou uma sobrevivente no capítulo da vida. Com poucas probabilidades de conseguir passar por uma gravidez naquele tempo, enganei a minha mãe ainda no ventre. Fiz-lhe um bluff: eu com a mão premium e ela a shovar com any two. Quando ela reparou... já era tarde. Nada a fazer, tive que nascer, ainda que não saibam ao certo com quantos meses nasci. Depois aquela coisa de chorar assim que nascemos? Não era para mim, desde logo me assumi como uma pessoa not by the book. Ou talvez gostasse de palmadas, ainda não descobri. E lá tiveram que me torcer as orelhas, nada a fazer, tive mesmo que chorar, senão não deixavam de me maltratar ainda acabadinha de sair da mufla, como eu gosto de chamar.

Hoje dedico-me a 100% ao que gosto de fazer e com grande pesar, não o posso fazer no meu país. Diz o governo que para já é ilegal. Tenho que aguardar que terminem os lobbys e que o dinheiro deixe de circular. Acredito que sim, é como um romance mal amanhado, chega um dia em que cai na rotina e deixa de circular a moeda de troca. Garantido.

E é com grande pesar que tenho que voltar para o meu país, deixar para trás este país que tão bem me acolheu, que me faz sentir em casa e que até me disponibilizou uma família, como se fosse a minha. 
E., o marido, os filhos, os pais, o cunhado e a esposa, o irmão e a esposa, os tios... Sou tão mas tão grata!!! 
Volto para o meu país oficialmente desempregada, para tratar de tudo a que tenho direito. E por imposição de uma lei ridícula, tenho que permanecer no meu país... as tão celebres apresentações quinzenais. A boa notícia é que a partir de 1 de Outubro deixará de existir essa parvoíce e eu vou poder tirar o pé (como dizem os meus irmãos angolanos). Isto se ainda for ilegal o que eu faço em Portugal, e não, não se trata de prostituição, drogas, armas ou outro negócio ilícito. Trata-se de algo que noutros países mais desenvolvidos se trata de "desporto mental" e por isso, nas próximas olimpíadas, será um jogador deste desporto que vai levar a bandeira dos "jogos de mente". Imaginem xadrês mas só com 2/3 das peças à vista... o resto... é magia. E é esta a magia a acontecer na ponta dos dedos, que me fascina.

Por agora, de bilhete de avião já comprado, com o futuro totalmente indefinido nos próximos meses, vou continuar a grindar. Não posso deixar de estar triste, muito triste. Apesar de não ser uma escolha minha, vou continuar a luta, aqui, ali... ou em qualquer lugar do mundo. Porque eu sou a minha casa.








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