segunda-feira, 13 de maio de 2013

Papel

Sábado. Eles esperam-me para almoçar. Sou a que sai mais tarde. Já não aguento mais Espanhol. Não tenho opção. Mais 2 semanas e termina. 
Vamos ao local habitual. Está calor, ficamos na esplanada. 
Falam sobre futebol, sobre o jogo que vai passar à noite. Sou a única mulher, a única pessoa aqui que não gosta de futebol. 
Tentam convencê-lo a ir celebrar a possível vitória para o Marquês. Ele não aceita, comentando:"já sabem como é a minha mulher... Ela não me deixa."
Eu sorrio, sem querer acreditar. Começa a contar-me histórias onde entram utensílios de cozinha como armas de ataque. Dou-lhe uma palmadinha nas costas. Olha para mim e diz-me: "Já é assim faz mais de doze anos. Mas eu gosto tanto dela!" 
Volto a sorrir, digo-lhe que compreendo, ao olhar para o brilho naquele olhar. 
"- só penso que se eu estivesse a morrer, era a mão dela que queria estar a segurar." - diz-me. 
"- e se ela morrer antes?" - questiono em modo de brincadeira. 
"- então estará do outro lado a dar-me a mão para me receber." - responde-me. 
Não consigo conter as lágrimas, que sorte os óculos de sol! Ele também chora. Coloco a minha mão na mão dele.   
É mais velho que eu. Tem uma nacionalidade diferente da minha. Mas um coração tão mole quanto o meu. 
Pega num guardanapo de papel e faz uma flor. O meu coração fica ainda mais mole. Aceito. 
Obrigada pelo mimo.
Obrigada pela companhia. 




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